Conheceram-se em um bar e saíram algumas vezes. Ela tinha olhos verdes, um pastor e morava sozinha. Ele já passara dos 30, gostava de música dos anos 80 e de cavalos. Davam-se bem.
Depois de alguns meses, ele fez o primeiro jantar pra ela.“Quero que você saiba que só cozinho pra pessoas especiais. Você agora é especial pra mim”.Ela riu e tomou um gole daquela sopa-de-não-sei-o-que. Seus olhos se arregalaram tanto que ela achou que cairiam dentro do prato, porque aquilo era a melhor coisa que já tinha comido.
“Deve ser esse o gosto do céu” – ela era meio piegas. Aquele jantar continuou com salada, carnes, massas e tantos outros pratos que ela até perdeu a conta. Já o delírio gastronômico continuou por muito tempo, com mais jantares, almoços, cafés-da-manhã, lanches da tarde, ceias e outros petiscos. De repente, ele a pediu em casamento. Ela já ia aceitar, quando parou e ligou pra melhor amiga:
“Ele quer casar mas eu não sei...”
“Mas você gosta dele?”
“Claro que gosto... a gente não briga muito... ele não é muito complicado... nem muito feio... nem muito chato... nem muito pobre... ”
“Homem mais ou menos, assim, tem um monte...”
“É que você não viu como ele cozinha...”
“Você quer casar com um cara porque ele cozinha bem???”
“Claro que não... é que... é que....”
“Se você tem dúvida, é melhor não casar.”
“Mas aquela sopa... e você, já casou pra saber como é?!”
“Não precisa ofender!”
Uma semana depois, terminaram. Pode-se dizer que tinham diferenças inconciliáveis.
Bastante tempo depois, ele se casou com uma outra moça e teve dois filhos. Ela continuou solteira e nunca mais pensou no caso. Só se sentia arrependida em alguns poucos momentos. Aqueles dias em que tudo dá errado no trabalho, o salto quebra, tem fila no banco, congestionamento e ainda, quando se chega em casa e abre a geladeira, só tem pizza de ontem.
