domingo, setembro 03, 2006

Night Shyamalan é a tampa da minha panela!!

“A moral da história é a seguinte: se você não é criança, pode achar esse filme ruim ou bobo ou simpático e isso não vai fazer mal a ninguém, nem a você. Mas se você é uma criança de verdade, você vai entender tudo o que eu escrevi aqui, porque você vai acreditar. E o resto que se dane.” Chico, em http://filmesdochico.blogspot.com/

Quando eu cheguei em casa depois de assistir A Dama na Água, de M. Night Shyamalan, procurei na internet algumas resenhas sobre o filme. Diferentemente do que eu achava, vários críticos gostaram (Marcelo Hessel, do Omelete, me decepcionou. Achei que ele enxergasse mais longe!*), mas a definição do Chico, aqui em cima, pra mim, diz tudo. Shyamalan não filma para o público. Seus filmes são pra ele e sobre ele. Se você for parecido com o cara, vai adorar.

Eu já começo a achar que sou a alma gêmea do indiano. Fui ao cinema sem rumo e assisti A Dama... só pelo diretor. Até porque, não importa o quanto os críticos me xinguem, sou apaixonada por todos os filmes dele. E, além do mais, os críticos podem me xingar de novo, ele fez o melhor filme sobre quadrinhos ever (escreverei sobre isso um dia).

O Marcelo, do Omelete, diz que Shyamalan peca em A Dama... por fazer um filme autobiográfico e autopiedoso, quando já havia superado essa fase em A Vila. Ledo engano, caro Marcelo. A Vila é, talvez, um dos filmes mais autobiográficos dele, só que não se refere ao passado e sim ao futuro.

O que dizer sobre A Dama...? Que, nele, Shy se firma como a versão moderna dos Irmãos Grimm? Tem muito mais do que isso.

Shy tem o dom de contar velhas histórias de uma forma nova. Você pode imaginar uma fábula passada em um prédio suburbano norte-americano cheio de imigrantes? Pois é isso que acontece em A Dama... Em seus filmes, sempre com “moral da história”, ele é criticado pelo exagero: a música pode fazer uma pedra chorar; os monstros, tão imaginários quanto possível, os personagens estereotipados. Mas por um acaso a Branca de Neve faz algum sentido na vida real? O exagero é A característica da fábula!

Sem falar nos enquadramentos. Quando você assiste um filme desses artísticos (daqueles iranianos mudos com música instrumental), é quase incomodo ver a cena por um ângulo diferente. Existe uma quebra, uma ruptura, mas isso, é claro, faz parte da “estética”.

Nos filmes do Shy, é absolutamente natural você olhar para uma sala em um ângulo no qual você precisaria estar plantando bananeira se fosse ao vivo, com um cotovelo desfocado no segundo plano, enquanto duas personagens conversam. É natural... completa o quadro e te fornece informações que um enquadramento normal não possui.

Sem contar as metáforas... seus filmes são a metalinguagem da metalinguagem. Em A Dama..., (não leia essa parte se você não viu o filme: contem spoilers!!) o crítico de cinema, além de atrapalhar todo o filme, é a única pessoa a morrer, e de forma longa e torturante. O cara tem por ferramenta de trabalho o preconceito, é o clássico caso do “quem não sabe fazer, ensina”.

Acho melhor parar. Poderia continuar por vários parágrafos a mais, mas seria inútil. Se, como o Chico disse, você assistir ao filme e não acreditar, eu só posso dizer que sinto muito. Você perdeu sua criança.

* (E, fala sério, comparar Shy ao Guillermo Del Toro? Além de serem estilos totalmente diferentes, a obra de Shy tem muito mais profundidade e linearidade que a do Guillermo!! Guillermo nunca fez fábula! Filme de terror não é história de ninar!!!)